Nikki-chan
Contos em forma de memórias ou memórias em forma de contos?

Natureza humana...

- Você precisa de gás? Você quer gás?
- Sim.
- Então me traga uma garota!
-...Você quer vender gás por mulher?
- É isso aí. E tem que ser bonita.

Não com essas palavras, esse diálogo ocorreu no filme “ALL TOMORROW'S PARTIES", do diretor Yu Lik-wai. Poderia, no entanto, estar na nova produção de Fernando Meirelles, “Ensaio sobre a cegueira”, uma adaptação do renomado romance de José Saramago.

A premissa básica de ambos os filmes é a mesma: a atitude dos homens durante o apocalipse. Enquanto o livro de Saramago é mais próximo de uma situação religiosa, o filme de Lik-wai se prende à situações já vividas pela humanidade, mas que resultam em extremos ainda não vistos. Mas que poderiam facilmente acontecer.

Saramago retrata uma situação excêntrica: a humanidade fica cega. Uma cegueira diferente, uma cegueira branca. E somente uma mulher continua enxergando.

“All Tomorrow’s parties” conta a história de dois irmãos que são presos e enviados para um acampamento. A Terra parece estar em guerra, entre o tirano que controla a China – ou a Terra, não fica tão nítido durante o filme - e os seus opositores – que também não sabemos quem são.

Um dia, o tirano desaparece. Sem saber ao certo o que fazer, os prisioneiros e refugiados saem do acampamento e encontram cidades desertas e destruídas, com poucos recursos naturais.

Os recursos básicos também faltam para os cegos de Saramago. A comida está no fim e um personagem – interpretado por Gael Garcia – toma o controle sobre o estoque. Em troca de alimento, ele exige dinheiro. Quando o dinheiro acaba, passa a exigir as mulheres. Daí a comparação com o filme chinês.

São dois filmes que, apesar de temas muito parecidos, são distintos. Tanto no enredo, quanto na filmagem...Meireles coloca algo de blockbuster em sua produção, enquanto Lik-wai mantém características próprias do cinema oriental, como a questão do final aberto para que o público possa refletir sobre o destino dos personagens. Para um ocidental acostumados com o “happy end” dos filmes americanos, o final de “All Tomorrow’s parties” seria bem seco.

Em todo o caso, acho que a crítica foi injusta com Fernando Meireles. Muito se criticou, mas acho que, como filme, ele é bom. Como adaptação, pode ser que não. Não posso afirmar, por que não li o livro.

Em geral, as adaptações nunca conseguem satisfazer os fãs dos livros. O que eu acho que é natural e não podemos pensar em fidelidade, pois se trata de dois tipos de linguagens totalmente diferente. E, na minha opinião, a literatura tem uma vantagem quanto ao cinema, por que a imaginação do leitor tem mais liberdade do que quando exposta às cenas impostas pelo telão. Mas não quero, com isso, diminuir o valor do cinema. Até mesmo porque, adoro filmes!

Voltando ao tópico inicial, ambos os filmes são ótimos para refletir sobre a natureza do homem. Nascemos bons? Nascemos mal? O meio nos corrompe? Por que, em meio ao desespero, a individualidade fala mais alto e nos tornamos cruéis? Temos que conhecer o contexto para julgarmos?

Na minha opinião, uma coisa é você ser cruel por sobrevivência, mas sobreviver não inclui a humilhação do outro.

Em “Ensaio sobre a cegueira”, me disseram que o contexto dos personagens fica em segundo plano. E eu concordo. Não conhecemos a história dos personagens por que é irrelevante e isso fica explícito no fato dos personagens não terem nomes, apenas profissão. Temos o taxista, o ladrão, o médico, a mulher do médico. O que nos leva a pensar que o que importa é a partir do momento da cegueira e como cada um reage à situação.

E as reações, como não poderia deixar de ser, são diferentes. Mas uns tendem à crueldade e outros tendem a tentar organizar para sobreviverem em grupo. O que difere um do outro nessas condições?

Muitas perguntas para uma história que me deixou angustiada sim, mas que, por outro lado, colocou minha massa cinzenta para funcionar. Posso e não consigo mesmo responder a tudo, mas acho que só a reflexão já torna válida a mensagem de Saramago.

A produção chinesa, por sua vez, segue por uma linha de pensamento não apenas do comportamento humano, mas, sobretudo, da relação homem e mulher. A história foca o relacionamento de dois casais e como cada um deles se comporta para tentar manter uma relação mais tradicional. Porém, depois de tudo o que passaram, até que ponto os valores tradicionais conseguem sobreviver?

Não conheço bem os trabalhos de ambos diretores, e menos ainda as obras de Saramago, mas essas foram as minhas impressões enquanto assistia aos filmes.

Resumo da ópera: vale a pena assistir!
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Obs: Tenho que registrar que foi injustiça com o japonês no filme "Ensaio sobre a cegueira", viu?! Coitado! Ele é tão fofo unf! haha
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Foto 1: Ensaio sobre a cegueira
Foto 2: All Tomorrow's Parties
Créditos: Reprodução
3 comentários:

Nossa! Fiquei com vontade de ver esses filmes.

Ms não agora pq pensar não tem sido divertido huahuahua...

De qq maneira, vou anotar as dicas ^^

Bjinhs!

PS: Blogspot chato agora sempre pede pra escrever letrinhas ¬¬


Oi, Karina. Que bacana o seu post. Muito legal ver vc estabelecer essas relações, trabalhar com essas análises e, mais ainda, refletir a respeito disso tudo.


Olha ainda não assistir nenhum dos dois filmes, mais gostei da analise combinatória, vou dar uma olhadinha nos dois depois volto e coloco minha opnião.
Beijos